Quando o Brasil se vê na tela
- Ronaldo Gomes dos Santos
- 25 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de jun.
Não é de hoje que cultivo o gosto por contemplar obras audiovisuais nacionais na grande tela do cinema. Confesso que é sempre uma grande emoção poder apreciar o trabalho de artistas brasileiros que, mesmo diante da escassez de estrutura, incentivo e apoio, conseguem entregar produções cinematográficas de imensa qualidade e sensibilidade.

Embora o cinema nacional desfrute de prestígio em festivais internacionais, ainda enfrenta desafios significativos dentro de casa. No cenário doméstico, a valorização e o reconhecimento por parte do público brasileiro permanecem aquém do merecido. Muitos espectadores seguem priorizando produções estrangeiras, especialmente as norte-americanas — uma preferência que se reflete nas bilheterias: em determinados anos, menos de 10% do público nos cinemas opta por filmes brasileiros.
Apesar desse panorama, a produção cinematográfica do país segue resiliente e inovadora, investindo cada vez mais em narrativas originais, roteiros potentes e na representatividade de vozes diversas. O público jovem, em especial, tem se mostrado mais receptivo a filmes que retratam o Brasil de forma autêntica, abordando com profundidade e sensibilidade temas sociais, raciais, históricos e afetivos.
Neste ano, o Brasil alcançou um feito histórico: conquistou, finalmente, um prêmio Oscar com a produção Ainda Estou Aqui. O filme mobilizou o país e transformou a noite da premiação em um verdadeiro clima de final de Copa do Mundo. Mais do que uma vitória individual, foi o reconhecimento de uma trajetória coletiva marcada por resistência, talento e paixão pelo audiovisual brasileiro.
Ontem, 24 de maio, foi a vez do Festival de Cannes consagrar mais uma obra nacional. O aguardado longa O Agente Secreto, gravado em Recife no ano passado e dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho, conquistou três importantes prêmios: Melhor Ator, Melhor Diretor e o Prêmio da Crítica. Essa conquista reafirma o vigor do cinema brasileiro e marca um novo capítulo de reconhecimento internacional.

Mais do que troféus, essas vitórias simbolizam um movimento mais amplo — o fortalecimento de uma arte que nasce das múltiplas realidades brasileiras e encontra eco no mundo. O sucesso de O Agente Secreto representa também a potência criativa que emerge das diferentes regiões do país — neste caso, do coração vibrante de Recife, um verdadeiro celeiro de histórias, sotaques e identidades.
Estamos diante de uma nova era para o cinema nacional, marcada não apenas por aplausos lá fora, mas também por uma crescente valorização aqui dentro. Que esse momento inspire mais olhares atentos, mais investimentos e, sobretudo, mais público disposto a se ver — e se reconhecer — nas telas do nosso próprio país.
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